sábado, 27 de novembro de 2010

Vai

Vai…
Para sonhar o que poucos ousaram sonhar.
Para realizar aquilo que já te disseram que não podia ser feito.
Para alcançar a estrela inalcançável.
Essa será a tua tarefa: alcançar essa estrela.
Sem quereres saber quão longe ela se encontra;
nem de quanta esperança necessitarás;
nem se poderás ser maior do que o teu medo.
Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida.
Para carregar sobre os ombros o peso do mundo.
Para lutar pelo bem sem descanso e sem cansaço.
Para enxugar todas as lágrimas ou para lhes dar um sentido luminoso.
Levarás a tua juventude a lugares onde se pode morrer, porque precisam lá de ti.
Pisarás terrenos que muitos valentes não se atreveriam a pisar.
Partirás para longe, talvez sem saíres do mesmo lugar.
Para amar com pureza e castidade.
Para devolver à palavra “amigo” o seu sabor a vento e rocha.
Para ter muitos filhos nascidos também do teu corpo e – ou – muitos mais nascidos apenas do teu coração.
Para dar de novo todo o valor às palavras dos homens.
Para descobrir os caminhos que há no ventre da noite.
Para vencer o medo.
Não medirás as tuas forças.
O anjo do bem te levará consigo, sem permitir que os teus pés se magoem nas pedras.
Ele, que vigia o sono das crianças e coloca nos seus olhos uma luz pura que apetece beijar, é também guerreiro forte.
Verás a tua mão tocar rochedos grandes e fazer brotar deles água verdadeira.
Olharás para tudo com espanto.
Saberás que, sendo tu nada, és capaz de uma flor no esterco e de um archote no escuro.
Para sofrer aquilo que não sabias ser capaz de sofrer.
Para viver daquilo que mata.
Para saber as cores que existem por dentro do silêncio.
Continuarás quando os teus braços estiverem fatigados.
Olharás para as tuas cicatrizes sem tristeza.
Tu saberás que um homem pode seguir em frente apesar de tudo o que dói, e que só assim é homem.
Para gritar, mesmo calado, os verdadeiros nomes de tudo.
Para tratar como lixo as bugigangas que outros acariciam.
Para mostrar que se pode viver de luar quando se vai por um caminho que é principalmente de cor e espuma.
Levantarás do chão cada pedra das ruínas em que transformaram tudo isto.
Uma força que não é tua nos teus braços.
Beijá-las-ás e voltarás a pô-las nos seus lugares.
Para ir mais além.
Para passar cantando perto daqueles que viveram poucos anos e já envelheceram.
Para puxar por um braço, com carinho, esses que passam a tarde sentados em frente de uma cerveja.
Dirás até ao último momento: “ainda não é suficiente”.
Disposto a ir às portas do abismo salvar uma flor que resvalava.
Disposto a dar tudo pelo que parece ser nada.
Disposto a ter contigo dores que são semente de alegrias talvez longe.
Para tocar o intocável.
Para haver em ti um sorriso que a morte não te possa arrancar.
Para encontrar a luz de cuja existência sempre suspeitaste.
Para alcançar a estrela inalcançável.
Paulo Geraldo

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Morre lentamente


Morre lentamente...
Quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo...
Morre lentamente...
Quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar...
Morre lentamente...
Quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece...
Morre lentamente...
Quem faz da televisão o seu guru...
Morre lentamente...
Quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos...
Morre lentamente...
Quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos...
Morre lentamente...
Quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante...
Morre lentamente...
Quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe...
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

Isso é muita sabedoria


Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afecto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

sábado, 13 de novembro de 2010

Alma gémea


“As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todos queremos. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo o que te prende, a pessoa que te chama a atenção para ti mesmo e para que possas mudar a tua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que vais conhecer, por que ela derruba as tuas paredes e acordam-te com um estalo. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não. Doi muito. As almas gêmeas só entram na tua vida para te revelar uma outra camada de ti mesmo, e depois vão-se embora.”
Elizabeth Gilbert - Comer Rezar e Amar

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Há que pensar


"Comece a escutar aquilo que diz. Se reparar que está a utilizar palavras negativas ou limitativas, modifique-as" 
 L. Hay

Unicidade

Descalço-me para sentir nos pés a areia molhada.
Cravo os dedos mais um pouco até ver as várias poças de água que os inundam e refrescam.
Traço vários círculos com a areia rugosa que debaixo dos meus pés se move, como que falasse comigo e partilhássemos a sua, longa e milenar sabedoria sabedoria.
E cada grão, vindo daqui e dali, de outros mundos e lugares, traz, no seu minúsculo corpo, a lembrança da grandeza daquilo que já foi.
Tal como em mim, o vibrar de cada célula do meu corpo traz consigo um pedaço de memória, uma partícula do que sou e daquilo que já fui.
E nesta harmoniosa partilha, o mar vem juntar-se a nós com uma leve onda cuja espuma permanece nos meus pés como se de um adorno se tratasse.
E assim encontro por momentos a perfeita sintonia dos tempos.
Aprecio este embalo, desta ausência de gente, estes minutos só meus e de tanta coisa ao mesmo tempo.
Afinal, quantas experiências se encontram nestes breves segundos?
Quantas vidas e experiências estarão a ali, naquele reduto onde aparentemente só existo eu, a areia, o céu e o mar?

Tu



Trazes-me a paz
A paz de manto banco, ternurenta e protectora
Um abraço que acalma
O sussurrar de um murmúrio solto que me convence que está tudo bem, que estas aqui e não há lugar para a dúvida
Um olhar que aquieta e conforta
Uma mão que exprime uma alma doce
Um beijo que me eleva e me mostra a sintonia do silencio
Um toque supremo
O encontro do tempo
E é nesse momento que parto em busca de mim e que me encontro.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Enamorarmo-nos pelas estrelas

Imagem do filme "Escrito nas Estrelas"
"Gosto das pessoas que se enamoram das estrelas... e caem de cansaço, ao voarem em busca da luz." (Dom Hélder Câmara)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Back to 80´s parte 2

Já que estou numa de saudosismo, aqui vai um anuncio memorável e para mim, intemporal...


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