domingo, 8 de novembro de 2009

Sou como o vento




Sou como o vento… por vezes, trago comigo brisas suaves que tocam a pele de quem as sente e dançam divertidas ao som de um ritmo sereno, outras vezes, trago um sopro forte, tão forte e tão rápido que é capaz de despir arvores, arrastando consigo as folhas secas que um dia iriam cair e é nesses dias que sinto que a minha vida devia ser exaltada, desinquietada.

É exactamente nessa altura que me apetece voar… sair de mim, sair daqui, sossegar com o silêncio vindo do Sahara, provar os sabores exóticos do Oriente e estranhos ao meu paladar, sentir a vertigem de subir à Torre Eiffel e deslumbrar-me com aquilo que os meus olhos avistam, deixar-me embalar pela voz suave de um simpático gondoleiro de Veneza, conhecer milhares de rostos em Nova York e deixar-me seduzir por eles ou arrepiar-me com o frio próprio dos glaciares.

Mas os espíritos inquietos são assim. Anseiam que a aventura chegue e venha colorir os dias normais e dar um sabor diferente à vida e, por isso, quando regresso trago uma bagagem cheia de tons azuis brilhantes, amarelos luzidios, verdes e vermelhos garridos e sabores doces que me animam e como um sopro me colocam no meu caminho. E no novo caminho... já ali à espera, ofereço-me à vida.
E é por isso tudo, que mesmo imóvel, rapidamente viajo a um futuro por desvendar que me eleva a mente para outros locais, me amplia os sentidos e me oferece a possibilidade de deixar lá uma bagagem caduca e usada e trazer uma muito mais leve e revigorante, ou a um passado que já não ressoa, que já não conta qualquer história e que já não lamento e por isso, acabo por deixa-lo partir.
Já deixei partir o sol, quando precisava de luz, a chuva quando precisava de água, a esperança quando me segurava nela, o medo quando as minhas pernas tremiam, o amor quando me abrigava nele. Mas não sou imune às mudanças do tempo e não abraço a indiferença, gosto do chão a tremer e da adrenalina do desconhecido e do novo, mesmo que isso tenha prazo.
Mas por mais contraditória que seja, ou que as minhas sólidas crenças de hoje, amanhã se desvaneçam no ar, eu posso criar o meu próprio tufão se bem entender. Às vezes corro o risco de parecer volátil. Mas não me entrego à letargia de dar ou receber amor como um sopro debilitado e de viver a vida com o coração resignado.

Texto que um dia escrevi para a minha maninha M.


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